Home » Brasil tem 34 cidades amigas do envelhecimento pela OMS, diz jornal
Para cidade conquistar status, a Organização Mundial da Saúde (OMS) considera 8 aspectos; Brasília não está entre cidades amigáveis para pessoas acima dos 60
O jornal O Estado de S. Paulo destacou em sua edição de domingo (1º) o último ranking de cidades amigas do envelhecimento no Brasil.
Desde sua criação, em 2007, 1.542 cidades em 51 países já ganharam o status de “age-friendly” da Organização Mundial da Saúde. Das 34 brasileiras, 26 estão no Paraná, quatro no Rio Grande do Sul, duas em São Paulo, uma em Minas Gerais e uma em Santa Catarina.
A primeira a conquistar o título foi Veranópolis, em 2016. A mais recente, Curitiba (PR), em 2023. “Não basta viver muito. Temos que viver bem”, declarou ao Estadão o prefeito de Veranópolis, Waldemar De Carli, de 71 anos. “Um dos segredos para se viver mais e melhor é começar a cuidar da saúde o quanto antes – de preferência, ainda na infância ou na adolescência”.
O município gaúcho de 26,8 mil habitantes ostenta outro título (extraoficial) curioso: a “Blue Zone brasileira”. O termo Blue Zone (“Zona Azul”, em livre tradução) foi criado pelo jornalista norte-americano Dan Buettner em 1999 para designar cidades com a maior proporção de centenários do planeta. Ao todo, são cinco: Loma Linda (EUA), Nicoya (Costa Rica), Sardenha (Itália), Ikaria (Grécia) e Okinawa (Japão). Seus habitantes vivem muito e adoecem pouco.
Se a OMS estipulou oito critérios para uma cidade ser considerada amiga do idoso, Buettner elaborou uma lista com nove condições para alguém chegar aos 100 com saúde. Vão desde adotar técnicas antiestresse, como tirar uma soneca à tarde ou fazer uma refeição entre amigos, até ter um propósito na vida (chamado “ikigai” pelos japoneses).
“Em geral, quem vive muito não frequenta academia ou disputa maratona. Em compensação, vive em um ambiente que exige constante movimentação”, ensina o autor de Conhecendo as Zonas Azuis: Comer, Viver e Ser Feliz (nVersos, 2021). “Outra dica: não espere se sentir empanturrado para parar de comer. Em Okinawa, as pessoas costumam terminar as refeições quando se sentem 80% satisfeitas”.
Há, no Brasil, outro estudo para avaliar as cidades ideais para quem quer viver mais e melhor. É o Índice de Desenvolvimento Urbano para Longevidade (IDL), desenvolvido pelo Instituto de Longevidade. Mas, nesse caso, os critérios de avaliação são diferentes daqueles usados pela OMS. Entram na conta, por exemplo, questões como participação social, segurança, educação, capacidade de ofertar serviços e recursos humanos de saúde, além das condições econômicas e financeiras das cidades e de seus habitantes 60+.
Em sua terceira edição, o IDL 2023 apontou São Caetano do Sul (SP) como a preferida dos idosos entre as cidades grandes (acima de 100 mil habitantes). Já São Lourenço (MG) e Peritiba (SC) foram as escolhidas entre as cidades de médio (entre 34,8 mil e 99,9 mil habitantes) e pequeno porte (até 34,8 mil), respectivamente, como as mais bem preparadas para cuidar de sua população idosa. O ranking é feito a cada três anos, com base em três variáveis: economia, socioambiental e saúde.
Quando indagado se as cidades brasileiras estão preparadas para o envelhecimento de seus habitantes, Gleisson Rubin, diretor do Instituto da Longevidade, é taxativo: “Têm muito a melhorar”. E justifica: “Todos os 5.570 municípios brasileiros foram avaliados e apenas 428, o que equivale a meros 7%, alcançaram desempenho considerado satisfatório”.
Mas, por que São Caetano do Sul, a 13 quilômetros de São Paulo (SP), foi apontada como a cidade mais bem preparada para o envelhecimento de sua população? No que diz respeito à saúde, o município de 161,1 mil habitantes se destacou em três indicadores: número de leitos hospitalares (8º lugar), de profissionais de saúde com ensino superior (5º) e de procedimentos hospitalares (2º).
O prefeito José Auricchio Júnior aponta mais dois diferenciais: os Centros Integrados de Saúde e Educação da Terceira Idade (CISEs), que oferecem de aulas de dança, vôlei e teatro a cursos de idioma, violão e artesanato, entre outros, e a Universidade Aberta da Terceira Idade (UniMais), que disponibiliza aulas de nutrição, turismo e informática, só para citar algumas, para alunos 60+ sem exigência de escolaridade anterior, apenas o nível básico de leitura e escrita.
“Segundo dados do IBGE, um em cada quatro brasileiros terá 60 anos ou mais em 2050. Em nosso município, já vivemos essa realidade: 24,2% da população de São Caetano é formada por idosos”, explica o prefeito José Auricchio. “Por essa razão, tratamos envelhecimento saudável como uma política pública”.
Ainda segundo dados do Censo 2022, o Brasil tem hoje 32,1 milhões de idosos (15,6% da população). Em 2010, eram 20 milhões com 60 anos ou mais (10,8%). Ao longo desses 12 anos, o total de idosos aumentou 56%, enquanto o de crianças (com até 14 anos) caiu 12,6% – de 45,9 milhões (2010) para 40,1 milhões (2022).
Em 2030, o número de idosos no Brasil vai ultrapassar o de crianças. “A população idosa veio para ficar”, avisa a médica Vânia Beatriz Merlotti Herédia, da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG).
Um inimigo a ser combatido é o idadismo (ageism, no original), expressão criada pelo psiquiatra americano Robert Butler (1927-2010). Segundo estudo da OMS com 83 mil voluntários de 57 países, 16,8% dos brasileiros acima dos 50 já sofreram preconceito ou discriminação por causa da idade. “É um mal que, muitas vezes, começa dentro de casa e, quando menos se espera, já se espalhou pela sociedade. Se não enfrentarmos o etarismo, teremos um mundo cada vez mais preconceituoso”, alerta Herédia. Nunca é tarde para começar: tanto a cuidar da própria saúde quanto a combater o etarismo.
Você vive em uma cidade amiga do idoso?
Fonte: AFABB-DF, com informações do jornal O Estado de S.Paulo, reportagem de André Bernardo.
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