“Todos nós somos capazes de cometer erros — e a saída pode ser, em vez de estereotipar as pessoas, tentar entender o que pode estar acontecendo”
Steven M. Starks, psiquiatra geriátrico, educador médico e especialista em políticas públicas, com base em Houston, nos Estados Unidos — especial para o The Washington Post, republicado pelo jornal O Estado de S. Paulo [clique aqui para ver a matéria na íntegra]
“ Como psiquiatra, observei, recentemente, um aumento no etarismo e poucas oportunidades para o diálogo intergeracional. O trabalho na prática clínica é sempre colaborativo e envolve a tomada de decisões compartilhada com a família. Quando ouço um cônjuge, filho ou cuidador expressar frustração em relação à “teimosia” do idoso, primeiro abordo mitos e percepções errôneas sobre o envelhecimento. Discutimos o processo de envelhecimento normal e saudável, bem como as realidades e normas dos adultos mais velhos. É imperativo manter a autonomia do indivíduo e mitigar os danos potenciais.
Aconselho a evitar generalizações. Crianças podem ser teimosas, adolescentes podem ser impulsivos e adultos de meia-idade podem tomar decisões precipitadas. Todos nós temos a capacidade de ser rígidos e cometer erros – grandes e pequenos – em todas as fases da vida. Quando você vê o que chama de “teimosia” em adultos mais velhos, siga as etapas abaixo para entender o que pode estar acontecendo.
Verifique se eles podem ter uma condição médica
A autossabotagem pode não ser uma característica do envelhecimento, mas um determinado grupo de idosos pode, de fato, ter dificuldades na tomada de decisões. Idosos com comprometimento funcional e problemas de mobilidade podem estar experimentando fragilidade, revelada por baixa resistência e redução da atividade física. Um estudo mostrou que a fragilidade física está ligada a alterações no cérebro que podem causar prejuízos na memória e nos processos de pensamento.
Além disso, o envelhecimento está associado a um risco aumentado de desenvolver comprometimento cognitivo leve (CCL). Indivíduos com essa condição podem funcionar relativamente bem no dia a dia, mas apresentar capacidade reduzida em certas habilidades. Pesquisas sugerem que indivíduos com CCL podem tomar decisões piores em relação a finanças, saúde e outras questões cotidianas. Além disso, são propensos a desenvolver demência.
Embora certos comportamentos possam levantar bandeiras vermelhas para uma condição neurodegenerativa, evite patologizar o envelhecimento.
Compreenda as emoções deles
A forma como processamos informações muda com o tempo, e há uma ênfase maior nos estados emocionais na tomada de decisões à medida que envelhecemos. Não ignore as emoções em torno das mudanças. Tristeza, medo ou raiva podem precisar ser aliviados primeiro.
Ouça ativamente as preocupações deles
As pessoas valorizam muito a independência. Isso não muda com a idade. A cultura atual tende a se concentrar nos jovens a ponto de negligenciarmos e ignorarmos as normas e os valores dos idosos. Tendemos a ter uma impressão errada sobre os idosos ou a estereotipá-los.
Aborde cada situação ouvindo ativamente. Podemos tender a evitar alguém que é desagradável; no entanto, pode ser fundamental aproximar-se quando as coisas parecerem difíceis. Além disso, se a lógica deles não se encaixar na sua perspectiva, pergunte-se por que isso está acontecendo. Se o trabalho no jardim ou as compras mantêm essas pessoas conectadas à comunidade, validam sua identidade ou lhes dão um senso de propósito, pode ser difícil promover uma mudança que envolva essas atividades.
Examine como eles encaram mudanças
Como a rotulagem por grupo etário pode perpetuar uma divisão geracional, pode ser útil caracterizar as ações de uma pessoa por seus traços de personalidade e formas de enfrentamento.
Quando alguém parece menos adaptável, isso pode ser um sinal de que precisa de maior apoio emocional e segurança. Estar aberto ao diálogo, apesar do desacordo, pode ser o único apoio necessário. Estar lá também pode protegêlos contra a solidão. Pessoas solitárias podem se tornar menos agradáveis e conscienciosas com o tempo.
Considere a acessibilidade nas adaptações
Pense se suas recomendações atendem às necessidades dos idosos e se são amigáveis e acessíveis. Para pessoas de gerações em que o suporte por telefone era sempre disponível, o uso de tecnologias da internet e aplicativos móveis pode parecer impraticável.
Alguns adultos também podem ter preocupações com a segurança quando indivíduos desconhecidos acessam suas casas para entregar bens ou serviços.
Construa apoio e autossuficiência
A cognição social parece diminuir à medida que envelhecemos; então, o caráter de nossas interações pode mudar com a idade. Como podemos ser menos hábeis em reconhecer formas de expressão (incluindo expressões faciais), uma pessoa pode parecer menos aberta a sugestões ou mais isolada. O luto associado à perda de cônjuges, familiares e confidentes de confiança – por morte ou distância – pode agravar essas mudanças.
Ao sugerir formas de os idosos se adaptarem a certas limitações em sua saúde física ou mental, enfatize a parceria e a comunidade. O envolvimento em centros comunitários ou programas de condicionamento físico projetados para os mais velhos pode criar uma fonte confiável de apoio. Estudos mostram que isso melhora a saúde e o estilo de vida dos idosos.
Peça para outra pessoa conversar com eles
Considere se você é a pessoa certa para essa tarefa. Se você está agindo de uma forma que faz parecer que está resolvendo o problema deles, repense essa estratégia. Os idosos não querem ser percebidos como um fardo. E receber conselhos de alguém distante de sua experiência também pode ser menos eficaz.
Tente localizar uma fonte confiável para transmitir a mensagem – talvez um amigo próxim ou alguém em situação de vida semelhante. Você pode tentar facilitar o transporte ou a viagem para permitir que um idoso tenha uma visita presencial e se reconecte com um conhecido.
Organizações religiosas oferecem outra forma significativa de conexão aos que podem ouvir a sabedoria de um líder espiritual. E, embora as leis de privacidade possam dificultar que os profissionais de saúde passem informações a alguém que não seja o paciente, eles podem receber informações. Você pode ligar para o consultório médico e compartilhar suas preocupações para que sejam avaliadas e revisadas.
Tenha paciência
Por fim, considere se as decisões dos idosos em sua vida são preferências ou problemas. Se houver preocupações reais com a segurança, busque ajuda profissional. Se for apenas uma questão de opinião, tenha paciência e não perca a esperança. Pode ser necessário persistência e reforço para motivar alguém a uma mudança significativa. ”
ASCOM AFABB-DF, com conteúdo de O Estado de S. Paulo
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