Home » Deu no New York Times: retardar menopausa pode favorecer longevidade da mulher
Reportagem publicada New York Times mostra que cientistas estudam formas de manter por mais tempo a vida útil dos ovários e prevenir doenças do envelhecimento nas mulheres
Em março, a primeira-dama Jill Biden anunciou uma nova iniciativa na Casa Branca que colocou o foco em uma questão antes aparentemente despercebida: e se pudéssemos retardar a menopausa e todos os riscos que ela traz? Uma reportagem no New York Times (NYT) abordou a questão.
O tema surgiu em um campo de estudo que tem chegado cada vez mais próximo da conclusão de que o sistema reprodutor da mulher é muito mais do que uma mera fábrica de bebês. Os ovários, em particular, parecem estar ligados a praticamente todos os aspectos da saúde feminina, de acordo com o NYT.
Eles também param de cumprir seu papel abruptamente na meia idade. Assim que isso acontece, a mulher entra na menopausa e em um declínio acelerado de outros órgãos, como o coração e o cérebro. Ao mesmo tempo que vivem mais, em média, mulheres enfrentam mais problemas de saúde e convivem mais com as limitações do envelhecimento do que os homens.
Os ovários são “o único órgão humano que apenas aceitamos que vai deixar de funcionar um dia”, disse a diretora da Agência de Projetos de Pesquisa em Saúde Avançada do governo americano, Renee Wegrzyn, responsável pela missão de Biden. “É uma coisa meio bizarra que simplesmente aceitemos este fato.”
É também o truncado período de vida útil dos ovários que os torna também um campo tão promissor para experiências. Os pesquisadores acreditam que prolongar sua validade, articulando melhor o tempo de sua viabilidade à de outros órgãos, poderia ser determinante para melhorar a saúde de uma mulher – e se tornar um fator de maior longevidade em geral.
A dra. Renee Wegrzyn disse esperar que o projeto da Casa Branca, no qual investigadores e startups disputam uma fatia do orçamento de US$ 100 milhões do programa (mais de R$ 550 milhões), coloque luz na relação entre menopausa e a longevidade, e ao mesmo tempo atrair mais financiamentos e cientistas para esta área.
Como os Ovários estão ligados ao envelhecimento
Os ovários funcionam como o centro de controle de “uma rede complexa de sinalização no corpo da mulher”, explica a professora-assistente do Instituto Buck de Pesquisas sobre Envelhecimento, Dra. Jennifer Garrison. Através de hormônios como o estrogênio e a progesterona, bem como de outras substâncias químicas, os ovários comunicam e influenciam praticamente todos os outros órgãos. Os cientistas ainda não sabem exatamente como eles fazem isso, mas sabem que quando os ovários param de funcionar normalmente surgem todos os tipos de problemas. Nas mulheres jovens, por exemplo, isso pode manifestar-se como síndrome dos ovários policísticos, o que aumenta o risco de condições metabólicas, doenças cardíacas, problemas de saúde mental e muitos mais.
À medida que os óvulos da mulher se esgotam, eventualmente desencadeando a menopausa, as comunicações químicas dos ovários parecem silenciar. Isto corresponde a um risco aumentado de demência, doenças cardiovasculares, osteoporose e outras doenças relacionadas à idade. Quanto mais cedo uma mulher entrar nesta fase da vida, maior será o risco de desenvolver essas condições e mais curta será, provavelmente, a sua vida. E nas mulheres que entram na menopausa prematuramente, porque os seus ovários são removidos cirurgicamente, os riscos de doenças crônicas são ainda maiores. Isso sugere que, mesmo depois de os ovários pararem de liberar óvulos na menopausa, eles ainda podem proteger a saúde geral da mulher, disse a Dra. Stephanie Faubion, diretora médica da Menopause Society. Não está claro como isso acontece.
Com as descobertas recentes, sabemos que isso é correlacional. Os cientistas ainda não sabem se são os próprios ovários determinantes para a boa saúde no envelhecimento, ou se há algo que acelera o envelhecimento que os leva a falharem, declarou a Dra. Faubion. Os estudos descobriram que diversos fatores, como o tabagismo, o índice de massa corporal e fatores ambientais de stress ao longo da vida contribuem para a instalação da menopausa. Mulheres negras e hispânicas tendem a chegar à menopausa mais cedo do que as brancas. O fator genético também deve influir.
“Seria o ovário apenas um marcador da saúde de modo geral? Ou será que os ovários deixarem de funcionar é o que causa as condições adversas de saúde?”, questionou a Dra. Faubion. “É uma pergunta de ovo ou galinha.”
Como retardar a menopausa pode aumentar a expectativa de vida
Existem algumas evidências, principalmente em animais, que sugerem que o prolongamento da função ovariana pode melhorar a saúde e aumentar a longevidade. Em ratas, por exemplo, o transplante de um ovário de um animal mais jovem para um animal mais velho prolonga a vida da rata mais velha.
Os cientistas estão agora experimentando diferentes maneiras de prolongar a função ovariana e retardar o início da menopausa em humanos.
Uma empresa, a Oviva Therapeutics, está nos estágios iniciais de testes – principalmente em camundongos e gatos – para descobrir se uma versão farmacêutica do hormônio anti-Mülleriano (AMH), que modula quantos folículos amadurecem em cada ciclo menstrual, poderia ser usado para reduzir a perda de óvulos. (Normalmente, uma mulher perde dezenas de óvulos por ciclo, embora, na maioria dos casos, ela acabe ovulando apenas em um deles.)
Considere o AMH como “um pano poroso que você cobre ao redor do ovário”, disse Daisy Robinton, cofundadora e executiva-chefe da Oviva, que está competindo por parte do financiamento da iniciativa da Casa Branca. O nível de AMH determina o tamanho dos furos no tecido; se houver enormes buracos (em outras palavras, se houver baixo AMH), um monte de óvulos pode sair em cada ciclo. Mas, se houver apenas pequenos buracos (o que significa que há AMH elevado), menos óvulos se perdem.
A ideia é que, se uma mulher perder menos óvulos, ela poderá manter as reservas ovarianas e a funcionalidade dos ovários por mais tempo, disse a Dr. Robinton.
Um ensaio clínico atualmente em andamento na Universidade de Columbia também está tentando diminuir a taxa de perda de óvulos pelas mulheres. O estudo está testando o uso de um medicamento imunossupressor chamado rapamicina – que é usado para prevenir a rejeição de transplantes de órgãos e se tornou um queridinho do movimento pela longevidade – em mulheres entre 35 e 45 anos para ver como isso afeta sua reserva ovariana. A rapamicina influencia o número de óvulos que amadurecem a cada mês, e foi demonstrado que a droga em camundongos prolonga a função ovariana.
A pesquisa ainda está em andamento e os pesquisadores não sabem quais participantes receberam o medicamento ou placebo, mas a cientista-chefe do estudo, Dra. S. Zev Williams, disse que dois padrões já surgiram: algumas mulheres parecem ter um declínio normal da reserva ovariana, que pode ser medido através de ultrassonografias e níveis de AMH, mas em outras, “parece ter sido alterado”, disse ele. “Então, isso parece promissor.” Williams, professora associada de saúde da mulher em Columbia, também está se candidatando ao financiamento da agência de saúde.
Os especialistas foram explícitos ao afirmar que o objetivo deste tipo de investigação não era prolongar indefinidamente a menstruação das mulheres, nem tornar possível a gravidez aos 70 anos – embora os tratamentos pudessem potencialmente prolongar a fertilidade.
O declínio acelerado dos ovários durante a meia-idade também os torna “um bom modelo para poder estudar o envelhecimento, e fazê-lo dentro de um período limitado de tempo”, disse a dra. Outros cientistas antienvelhecimento também promovem experiências com a rapamicina, por exemplo, mas é virtualmente impossível determinar se o medicamento prolonga a vida humana sem realizar um estudo de várias décadas. Com os ovários, os pesquisadores podem ver se há um efeito muito mais rápido.
Além do mais, “se pudermos entender por que os ovários envelhecem prematuramente e o que está causando isso, quase certamente isso nos contará algo importante sobre o envelhecimento do resto do corpo”, declarou Garrison. “E então isso, é claro, se torna importante não apenas para as mulheres, mas também para os homens.”
Fonte: AFABB-DF, com informações do jornal New York Times e reportagem de Alisha Haridasani Gupta e Dana G. Smith.
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