Os juros surgiram assim que as pessoas perceberam a existência da afinidade entre o dinheiro e o tempo. Os registros mais antigos mostram que os babilônios, na Mesopotâmia (cerca de 2000 a.C.), já praticavam o que atualmente denominamos juros. Os gregos antigos também já cobravam uma remuneração nos empréstimos concedidos. Com o passar do tempo, os bancos foram se organizando, e chegamos ao estágio atual, no qual governos, empresas e pessoas dependem de empréstimos que envolvem o pagamento de encargos financeiros.
Em definição simples, juro significa aluguel do dinheiro. Representa um prêmio para quem se dispõe a ficar, por determinado perÃodo, longe do seu rico dinheirinho e, logicamente, ônus para quem precisa pegar dinheiro emprestado.
As taxas de juros praticadas são resultantes da polÃtica monetária de cada paÃs. No nosso caso, a taxa Selic, conhecida como o encargo básico de juros, está em 15,00% ao ano. Com isso, o Brasil ocupa a 2ª posição no ranking dos paÃses com o maior juro real do mundo.
Segundo levantamento da MoneYou (moneyou.com.br), a taxa de juros real brasileira ficou em 9,53%, atrás da Turquia, que encabeça o ranking com taxa de 14,44%. A Rússia está na terceira posição com juro real de 7,63%. A Holanda tem o menor juro real entre os paÃses do ranking, com -3,24%. Quando se olha para o ranking nominal de juros, o Brasil, com 15,00% ao ano, ocupa a 4ª posição. O PaÃs está atrás da lÃder Turquia, com 46,00%, da Argentina, com 29%, e da Rússia, com 21% ao ano.
Juros altos, aliados à falta de planejamento e controle dos devedores, evidenciam uma situação alarmante: 77 milhões de pessoas inadimplentes no paÃs.
Nesse cenário, quando se olha para as taxas praticadas pelo sistema financeiro, às quais estão sujeitos os tomadores de crédito, a situação é muito preocupante. Segundo dados do Banco Central, divulgados no site agenciabrasil.ebc.com.br em 27.06.2025, a taxa de juros média dos cartões de crédito rotativo chegou a 449,9% ao ano. Já no cheque especial, a taxa média é de 134,7% ao ano. Nos consignados, os juros também são elevados – média de 26,5% ao ano.
O perigo dos juros cobrados no PaÃs para o equilÃbrio financeiro de quem toma crédito fica evidente ao se comparar as taxas de mercado com o crescimento anual da renda – que, para assalariados, aposentados ou autônomos, dificilmente supera o IPCA, que foi de 4,83% em 2024. Assim, o descasamento entre os juros elevados nas diversas modalidades e o pequeno reajuste das receitas deixa claro que vai faltar dinheiro no fim do mês, fato ainda agravado pela falta de planejamento e controle dos devedores.
A consequência não poderia ser outra: a inadimplência. Segundo pesquisa da Serasa realizada em maio, existem no Brasil 77 milhões de pessoas com contas em atraso, o que representa 47,33% da população adulta do PaÃs.
Ainda nessa linha, há sempre a dúvida recorrente: por que os juros são tão altos no Brasil? São vários os argumentos. Eis alguns deles: A necessidade de combater a inflação – para isso, o Banco Central costuma elevar a taxa básica de juros (Selic), o que torna o crédito mais caro. O endividamento público elevado – situação que gera desconfiança e, assim, os especuladores exigem juros mais altos para investir no paÃs. O spread bancário (diferença entre o que os bancos pagam para captar recursos e o que cobram nos empréstimos) – que é um dos mais altos do mundo, fato que ocorre por fatores como alta inadimplência, impostos incidentes, custos operacionais e baixa competição entre as instituições financeiras.
Finalizando a primeira parte desse tema, é sempre bom lembrar: juros altos nos empréstimos representam grande risco à saúde financeira dos tomadores de crédito. Sem um bom planejamento e controle por parte dos mutuários, esses encargos elevados podem gerar endividamento excessivo, inadimplência e outras consequências igualmente danosas.
No próximo texto daremos continuidade a esse assunto.
Manoel Souza é Administrador, Funcionário aposentado do BB, Diretor da AFABB-DF e Conselheiro da FAABB
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