Na primeira parte desse tema abordamos a origem e a definição de juros e mostramos que, com a Selic em 15% ao ano, o Brasil ocupa a 2ª posição no ranking dos países com o maior juro real do mundo – ficamos atrás apenas da Turquia.
Também destacamos a média das taxas praticadas em algumas linhas de crédito, informadas pelo Banco Central, todas elas muito elevadas: cartão de crédito rotativo: 449,9% ao ano; cheque especial: 134,7% ao ano; crédito consignado: média de 26,5% ao ano.
Vimos também algumas causas para a prática de juros altos no Brasil: necessidade de combater a inflação; endividamento público elevado; e spread bancário, que é um dos mais proeminentes do mundo.
Hoje vamos destacar os efeitos danosos causados pelos juros altos para a economia como um todo e refletir sobre a importância de se migrar da condição de pagador de juros para a posição de poupador, recebendo dividendos do capital economizado.
Sabemos que a sistemática dos juros elevados tem sido adotada como ferramenta de controle da inflação. Mas, quando mantida por longo prazo, essa estratégia acaba produzindo também efeitos negativos que afetam diretamente a economia, aumentando o endividamento e a inadimplência das famílias, reduzindo o consumo e diminuindo os investimentos. Juros altos também encarecem o crédito e tornam mais difícil o acesso a financiamentos. Com isso, vários setores da economia são impactados negativamente, reduzindo, assim, a geração de emprego e renda.
No nosso país já é comum que milhões de pessoas convivam com dívidas e parcelas que, somadas aos juros exorbitantes, consomem boa parte da renda mensal. Como bem sabemos, essa realidade tem consequências sérias: limitações financeiras, estresse e inadimplência (pesquisa da Serasa, em junho, apontou que existem 77,8 milhões de pessoas com dívidas em atraso). Mas essa situação pode e deve ser revertida com uma simples mudança de mentalidade: trocar o papel de pagador de juros pelo de poupador.
“Juros compostos são a oitava maravilha do mundo. Aquele que entende, ganha. Aquele que não entende, paga”. Essa famosa frase é atribuída a Albert Einstein e enfatiza um dos principais pilares do mundo dos investimentos: a geração de riqueza por meio dos retornos compostos.
Para isso, é necessário planejamento financeiro e foco no assunto. Em uma definição simples, planejar é decidir antes de agir e isso requer, entre outros aspectos, os seguintes passos: definir claramente o objetivo almejado, estabelecer prazos e recursos necessários, elaborar planilha de receitas e despesas, identificar alternativas de ação (caso haja algum imprevisto), controlar e acompanhar.
Para a operacionalização do plano de ação, liste todas as dívidas (valores, juros, prazos), anote as receitas e despesas, identifique e corte gastos desnecessários, troque dívidas caras por outras mais baratas e, sempre que possível, adote estilo de vida mais simples e consciente.
Após esses ajustes, é hora de formar reserva para emergência, guardando dinheiro suficiente para despesas básicas pelo período mínimo de 6 meses, optando por investimentos de baixo risco, com rendimento e liquidez diária.
Chegada a hora de começar a investir, procure conhecer bem as opções disponíveis, especialmente as de renda fixa e variável, e invista regularmente, mesmo que sejam valores pequenos. Assim, os juros que antes eram um peso passam a ser uma fonte de renda.
A transição de endividado para investidor é uma jornada possível e transformadora. Exige organização, disciplina e paciência, mas os resultados compensam: mais tranquilidade, liberdade e autonomia financeira. Parar de pagar juros e começar a recebê-los é uma mudança de mentalidade que pode mudar vidas — e o melhor momento para começar é agora.
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Manoel Souza é Administrador, Diretor da AFABB-DF e Conselheiro da FAABB
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